quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Algumas bandas que marcaram a década - portuguesas







Algumas bandas que marcaram a década - estrangeiras







quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Filmes da década

Bom, vergando à onda da catalogação dos sentidos e vivências em escalonamentos e espaços temporais, ficam aqui os meus 10 filmes da década.


2000


2001


2002


2003

2004



2005

2006

2007
2008


2009

Cenas do Socialismo Real




sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O golpe de 1964

À conta das vagas de aguerrida luta social a intensificação do embate entre os blocos políticos torna-se inevitável, em 1964 assiste-se no Brasil a um movimento de preparação golpista que servirá de modelo em muitos outros países da América Latina. Com as proposta de João Goulart, que passavam por uma reforma agrária que aproveitasse as terras devolutas às margens das Rodovias Federais e por um plano económico bastante restrito no que toca ao envio de remessas ao exterior, pinta-se mais a imagem de um governo “esquerdizante”. Perante as movimentações conservadoras e sob uma pressão política intensa Jango realiza a 13 de Março um comício histórico na Central do Brasil no Rio de Janeiro, elevando o tom das medidas estatizantes e de afronta às velhas oligarquias reacionárias.

A direita brasileira não podia mais brincar à democracia

A
resposta da direita civil e militar surge também na forma de movimentação de massas, as “Marchas da Família com Deus e pela liberdade” enchem as ruas de São Paulo e registam-se grandes movimentações de tropas do exército um pouco por todo o país. Estas demonstrações deixam à vista as bases frágeis do governo de Jango e a sua incapacidade para levar a cabo uma radicalização de cariz classista como saída para a crise política, embora seja controverso afirmar que tenham sido estas as responsáveis pela decapitação do governo. Perante a marcha das tropas do General Olímpio Mourão, em 31 de Março, com destino ao Rio de Janeiro e a incapacidade do Governo em articular uma resistência armada, João Goulart abandona o poder retirando-se para sua terra natal, donde assiste à transferência de poder operada pela Câmara dos Deputados que entrega a Presidência ao General Castello Branco. A primeira e mais notória medida de Castello Branco, por sinal, foi revogar as leis que limitavam a remessa de lucros ao exterior e aquela que decretava a Reforma Agrária de terras devolutas às margens das rodovias federais. O Exército confirmou ser a organização que melhor podia servir, com seus quadros burocráticos e sua força coerciva, os interesses das oligarquias do campo e a burguesia urbana, ansiosas por estabilidade social. Com o golpe o próprio exército abafou ainda a subversão de sargentos e marinheiros, ligados ao movimento de Brizola que vinham demonstrando apoio ao governo de Goulart.

O imobilismo da esquerda

De qualquer forma, o facto de a resistência de esquerda ao golpe ter sido residual ou nula levanta até hoje o debate sobre a classificação do golpe de 1964, sendo a única certeza que a organização política montada em torno do governo de Goulart implodiu arrastando com ela boa parte das organizações de luta dos anos precedentes. Em particular o PCB faz uma crítica interna dura com o seu posicionamento de aposta na frente única, “O resultado dessa política foi trágico. Toda a esquerda na época pagou um alto preço pelos erros de avaliação. No dia do golpe, alguns militantes do PCB chegaram a achar que o Exército estava nas ruas para “defender a legalidade.”

Envolvimento dos E.U.A – O mito do papão imperialista ou o polimento da lente?

Como em todos os acontecimentos do pós segunda guerra é impossível não analisar o posicionamento dos E.U.A, sobretudo quando o assunto é a América Latina. Sendo certo que o envolvimento yankee na aventura golpista brasileira foi sendo o centro de muitos debates, sobretudo na esquerda revolucionária reconfigurada e caída de amores pelo PT, a divulgação recente dos documentos da CIA, sobretudo o acesso à gravação telefónica que colocamos abaixo, onde Lyndon Johnson diz o que diz, não deixa grande margem para teimas. Os documentos da CIA ainda revelam que o governo dos EUA, por meio de Lincoln Gordon (Embaixador norte-americano), articulou todo um apoio logístico, caso os golpistas enfrentassem alguma resistência armada.




terça-feira, 22 de dezembro de 2009

parcos resultados(?) saídos da Cimeira de Copenhaga. a arte urbana pronuncia-se... LA - PI - DAR!!

street artist Banksy spray-paints message in red capitals on wall beside Regent's canal in north London
(...) with the words disappearing below the water

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Socialismo e Democracia, um casamento perfeito!


O enigmático país que acolheu a morte do guerrilheiro cumpre hoje o presságio que Guevara havia deixado. A vitória absolutamente democrática de Evo Morales na Bolívia, mais que uma razão para festejo de todos os socialistas é uma razão para reafirmarmos a esperança… A esperança no ressurgimento do socialismo do século XXI, absolutamente livre e absolutamente democrático. É obvio que isto está a incomodar os senhores do Mundo, afinal de contas, na Bolívia está-se a construir um socialismo democrático e anti autoritário, quem diria que seria possível, hein?

Quando na Bolívia em Janeiro sai vencedora a nova constituição Boliviana (e ao mesmo tempo Bolivariana) percebeu-se que a Bolívia caminhava para uma experiência inovadora em vários níveis; Quando Morales ganha nas urnas (com 61%) o que a direita reaccionária tinha tentado derrubar com violência nas ruas, percebe-se que o povo aprovou e quer verdadeiramente a mudança.

Em Janeiro os povos indígenas puderam celebrar, os seus direitos foram reconhecidos ao fim de anos de massacres físicos e culturais. Os indígenas (80% da população da Bolívia) puderam passar a dispor de uma quota obrigatória em todos os níveis de eleição, a ter propriedade exclusiva dos recursos florestais e direitos sobre a terra e os recursos hídricos. A partir de Janeiro foi limitada a terra dos grandes latifundiários (entre 10 mil e 5 mil) – acaba-se de vez com os abusos dos regimes monopolistas da terra controlados pelos grandes latifundiários instituídos numa espécie de capitalismo rural “aceitável” (supostamente visando a socialização dos benefícios) excluído o grosso que trabalha a terra – os povos (esses sim em luta pelo bem comum). A nível económico foi exigido às empresas estrangeiras que reinvistam os seus lucros na Bolívia; Uma questão de justiça simples – “tudo o que ganhas connosco e à nossa custa tens de investir na nossa terra e em nosso benefício.” A Igreja contestou o facto de se colocar todas as religiões em pé de igualdade, retirando ao catolicismo o lugar da "religião oficial do Estado".

De facto, o Sim venceu na Bolívia, e isso foi sem dúvida um grande avanço para a mudança do país. O triunfo do “Movimento ao Socialismo” nestas eleições, foi a confirmação desse projecto social de mudança democrática e revolucionária. Evo Morales ganhou as eleições na Bolívia com 61% dos votos. No seu discurso em La Paz, disse que a vitória nas eleições constituía uma obrigação para acelerar o processo de mudança que se vem construindo desde há quatro anos. O MAS alcançou a maioria nas duas câmaras da Assembleia Legislativa Plurinacional, e dois terços do Senado.

"Louvado seja aquele que correndo por entre os escombros da guerra, da política e das desgraças públicas, preserva sua honra intacta."… Velho Bolivar! A afirmação do socialismo na Bolívia é feita de cara levantada e de honra intacta, sem truques ou malabarismos eleitorais. E isso incomoda! A direita Boliviana faz o seu velho jogo de sombras, de ilusionismo factual, capta apoios dos estados capitalistas e encena factos de violência nas ruas como meio de justificar a derrota. Mas de que lado fica agora Obama? Será que Obama vai promover um novo espírito de diálogo com a América Latina – afinal ele é o Nobel da paz…? Ou vai persistir no erro histórico de desprezo e tentativa de boicote dos governos sul-americanos? …

O triunfo na Bolívia é um triunfo que me faz acreditar que existe uma segunda via para o socialismo… A aplicação do socialismo não se resume meramente a autoritarismo repressivo, anti-democrático e a brutalidade assassina… O socialismo pode ser libertário nos nossos dias, quando implementado de forma democrática, livre e com o apoio da população. O triunfo Bolíviano faz-me acreditar que essa segunda via é possível e que vale a pena lutar por ela. Por um socialismo com valores marxistas: liberdade, justiça, democracia!

Uma salva de palmas a Evo Morales por ter essa ousadia: a de construir uma excelente experiência de socialismo moderno, actual e democrático.

Cá estaremos, Bolívia, para ter ver crescer…

Artigo publicado em: http://www.acomuna.net/content/view/306/1/

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O Governo Jango (1961-1964) – O Brasil em ebulição social


Em 1961, João Goulart toma posse como Presidente da República Brasileira na sequência da renuncia de Jânio Quadros, após um curto governo de 7 meses. Com a oposição política das lideranças conservadoras e militares, João Goulart – O Jango, contava com o apoio do PTB, partido com forte influência no mundo sindical, e ainda do PCB e PSB. Para além destes dois partidos assinalam-se o apoio e a influência de um movimento social robusto, com fortes raízes populares e em ascensão organizativa1. De certo modo, o Governo de Jango ganhou contornos de Frente Popular, prontamente atacado pela ala militar conservadora, levando o congresso nacional a impor um sistema parlamentar, sendo Tancredo Neves empossado primeiro-ministro. Já em 1963, através de um plebiscito o sistema é rejeitado e retorna-se ao presidencialismo.


As greves e movimento operário

Entre 1961 e 1964 as greves urbanas dos serviços e da indústria multiplicam-se em vários sectores, conseguindo ensaiar movimentos conjuntos com forte impacto, como a greve dos 700 mil em 1963. Tendo várias lideranças sindicais, como as do Estado de São Paulo, ligações ao Governo Jango estas greves ganharam contornos políticos determinantes no desfecho político da vitória da reação política e militar e no estabelecimento de um apertado cerco a toda a actividade sindical2.


A Frente de Mobilização Popular

Criada em 1962 sob a liderança do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, actuou como grupo de pressão, exigindo que o presidente João Goulart programasse as reformas de base (agrária, urbana, tributária, bancária e constitucional). A Frente contou com a adesão de organizações sindicais, femininas, camponesas e de alguns integrantes do Congresso Nacional e do Partido Comunista Brasileiro (PCB). A FMP lançou vários manifestos, dentre eles o de apoio à rebelião dos sargentos em Brasília de setembro de 1963, e o de apoio ao nome de Leonel Brizola para ministro da Fazenda. A UNE – União Nacional de Estudantes ganha neste período um forte ascenso de mobilização, constituindo um movimento que irá subsistir para lá do golpe militar de 1964.


Ligas Camponesas

As Ligas Camponesas foram associações de trabalhadores rurais criadas inicialmente no estado de Pernambuco, posteriormente na Paraíba, no estado do Rio de Janeiro, Goiás e em outras regiões do Brasil, que exerceram intensa atividade no período que se estendeu de 1955 até a queda de João Goulart em 1964. O movimento tinha como objetivos básicos lutar pela reforma agrária e a posse da terra. No plano nacional o seu principal líder foi o advogado e deputado pelo Partido Socialista, Francisco Julião3. Em 1962, foi criado o jornal A Liga, veículo de divulgação do movimento. Com a aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural, nesse mesmo ano, muitas Ligas transformaram-se em sindicatos rurais. No final de 1963 o movimento estava concentrado nos estados de Pernambuco e Paraíba e o seu apogeu como organização de trabalhadores rurais ocorreu no início de 1964, quando foi organizada a Federação das Ligas Camponesas de Pernambuco, da qual faziam parte 40 organizações, com cerca de 40 mil filiados.



1-BANDEIRA, Moniz, (1978), O Governo João Goulart: As lutas sociais no Brasil (1961 – 1964). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

2-NEGRO, Antonio Luigi; SILVA, Fernando. «Trabalhadores, sindicatos e política (1945-1964).» In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. (org.). O Brasil republicano. O tempo da experiência democrática: Da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, v. 3, p.155-194.

3- BARRETO, Leda, (1963), Julião, Nordeste, Revolução. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A reunião que radicalizou a ditadura brasileira


Passados mais de 40 anos sobre o AI-5, acto institucional que mergulhou a ditadura brasileira no seu período mais repressivo e sanguinário, o jornal "Folha de São Paulo" lança um interessante site interactivo onde se podem ler e ouvir os registos da reunião que aprova o acto.


Aproveitando o mote, lançamos aqui um especial "Ditadura Militar Brasileira" de modo a revermos os principais acontecimentos e actores desta fase histórica recente e ainda tão marcante.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009



Um dos melhores livros deste grande senhor da literatura Mundial... Uma analogia muito bem conseguida, um enredo fenomenal … E se a vida animal de repente desaparecesse da Terra, excepto num pequeno recanto do mundo e em doses mínimas?


Enquanto uns países combatem a homofobia, outros agravam-na

Pois é, quando se pensa que estamos num mundo que está a ficar consciencializado que a homofobia é crime e não a homossexualidade, há sempre alguém que nos abre os olhos para a verdade.
O Uganda, que já tinha uma lei que podia condenar pessoas que tenham tido, nem que seja uma vez, algum comportamento homossexual, a 14 anos de prisão prepara-se para aprovar uma lei bem pior:

- caso se verifique "homossexualidade agravada" (se alguém quiser explicar o que isto significa, agradeço porque também não sei), @ réu pode ser condenado a prisão perpétua/pena de morte;
- ugandeses homossexuais que vivam fora do Uganda, deverão voltar para poderem ser julgados;
- tod@s que saibam da existência de comportamentos homossexuais e não os denunciem levarão uma pena de prisão preventiva de, no mínimo, 3 anos;
- quem ajude homossexuais, com emprego, aluguer de uma casa, etc, terá uma estadia na prisão, de pelo menos, 7 anos.

O Uganda cortará relações internacionais para que a lei possa ser aprovada.
Isto significa que, para além de descriminarem os homossexuais, obrigam, segundo a lei, a que tod@s o façam.
É nojento, é irracional isto.
Quando é que as pessoas percebem que a liberdade para amar não interfere com mais ninguém? Que um casal, seja ele hetero ou homossexual, não interfere com a vida de ninguém senão daquelas duas pessoas?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Estou insatisfeito. Não está toda a gente?

1.
É maçador ver páginas de jornais cheias de política vazia e mentirosa. Dá vontade de ir para a praia, de preferência se estiver a chover torrencialmente. Ouço agora Caetano Veloso a repetir palavras de Teresa Vilaverde que dizem que a poesia, a música, são essenciais, mas que as pessoas podiam deixar de escrever romances e ensaios – que não fariam falta. Giro era que este jornal, por exemplo, se banhasse de poemas que apertem com o íntimo, que dêem aquele nó na garganta, que provoquem aquelas ganas de correr até ao grande amor só para um abraço que nunca é suficiente!
Ao invés de se entreter a gente a contar dinheiro, devia a gente entreter-se a abrir caminho para uma Terra de maior confiança, de partilha e de cumplicidades.

Descanse quem me ler, não ingressei em nenhum culto nem pretendo profetizar aqui. Até porque seria, provavelmente, mais maçador que ler eternas tricas entre PS e PSD, seria ler partes de um diário emocional repleto de falsas amarguras. Apenas me farto da superficialidade das discussões que se fazem por cá. Como aquelas pessoas que caracterizam outras “tu és não-sei-quê... és demasiado sei-lá-quantos...” – as pessoas sabem o que são, sabem quem são e o que fazem, sem precisar de uma sombra que lhes explique cada passo da sua vida.

Um(a) representante deve ser – normalmente é – o espelho dos/as representados/as e é aqui que qualquer coisa não bate certa. Será JB que espelha esta gente ou é a gente que espelha a figura do representante escolhido? Parece-me que caminhamos para um grave desvirtuar da democracia e da república que começa na fraca limitação de mandatos. Neste momento a Nazaré é a Casinha de Bonecas de JB e de um grupo restrito de negociantes. É pôr e dispôr sem sequer pedir à mamã um paninho para limpar o pó. Começa na criação de 1 posto de emprego e segue pela destruição da paisagem afora.

Tenho de vincar esta ideia: a única vida que há depois desta é a que cá se deixar. É, por isso, importante que exista um movimento de balanço perpétuo, que ajude a entender que cada qual é sentimentos e sensações, muito mais que factos e razões. Valorizar isso – as cicatrizes que se carregam e as que se deixam vincadas bem fundo. Assim a gente apercebe-se que deve acabar com as futilidades e organizar um mundo melhor e mais justo para quem há-de vir (não como num pronto-a-vestir, mas num contexto de racionalidade emocional que permita compreender que se está muito mais próximo de toda a gente que de gente nenhuma).

Para se dar a volta pode começar-se pela cabeça e desaguar na acção. Há que defender o que há de melhor e de mais natural na Nazaré. Essa deve ser a prioridade que salta para dentro das casas e para a rua. Podem fazer-se más escolhas políticas, mas depois tem de se compensar na vigilância reforçada a essas políticas que pouco a pouco vão destruindo patrimónios.


2.
Na última Assembleia Municipal fizeram-se escolhas interessantes. Na eleição de 5 membros para a Assembleia Intermunicipal do Oeste, após “negociação de lugares”, PS e PCP decidiram integrar uma lista com PSD, da qual o BE se demarcou propondo, em alternativa, uma lista conjunta da suposta esquerda.
Houve a definição do salário de Afonso Ova e foram também definidas taxas (IMI e IRS).


3.
A Passagem de Ano está à porta e o cartaz não é um programa como seria desejável, é uma fotografia sem programa. O factor surpresa não é atractivo, qualquer organização de eventos sabe disso. Queremos que a noite seja repleta mas não queremos a confusão do ano passado? Já vamos tarde. Só com escolhas musicais se condiciona a vinda de certas faixas etárias.

Publicado hoje em Região de Cister.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

poesia de rua ou... uma espécie de "postal natalício"

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A Birmânia no jogo energético

Há pouco tempo escrevi um texto sobre a Brimânia, aqui o deixo porque não temos falado da questão:

A oligarquia é adversa à democracia embora nem sempre a democracia seja adversa à oligarquia... Isto porque nunca houve oligarquias democráticas, mas já houve (e continuam a haver) democracias oligárquicas. Assim a Birmânia foi crescendo e se formando naquilo que hoje é...

Passando de uma democracia independente na metade do século (1948), foi modelada por uma apropriação oligárquica do sistema, que colidiu com o golpe de estado do general Ne Win em 1962. Isto porque a democracia em sentido puro é incorruptível e quando a democracia se deixa minar ao ponto de ser derrubada ou é porque é uma democracia corrupta ou porque se começou a transformar numa democracia oligárquica. Foi assim que, em nome de um qualquer “socialismo birmanês” foi nacionalizada toda a economia, mas para as mãos de quem? Do povo? Dos trabalhadores? De quem nada mais tem que a sua força de trabalho? Não (...) seguindo os lobbies oligárquicos que lhe deram origem a economia birmanesa ficou, após o golpe de estado, nas mãos da casta militar: o país foi isolado (até se acabaram com os passaportes...); foi lançada uma brutal ofensiva xenófoba que expulsou do país Indianos e Paquistaneses principalmente; intensificou-se a caça às minorias étnicas; contudo após várias revoltas a ditadura de Ne Win afundou-se com os tumultos de 1988, após o massacre de 3 mil pessoas. De certo modo restabeleceu-se a esperança... A junta militar que sucedeu fez eleições em 1990 e a Liga Nacional para a Democracia de Suu Kyi obteve quatro quintos dos votos. Ironia das ironias, na selvajaria “oligárquico-democratica” birmanesa as eleições foram anuladas. Suu Kyi foi presa e restabelecida a ditadura, esta sob o comando de Than Shwe que blindando o regime Birmanês continua nos dias hoje a praticar verdadeiras chacinas que passam ao lado (mais uma vez...) das grandes potências. Na verdade, por vezes é questionável para que se celebrou uma declaração Universal (para todos) dos direitos do Homem quando esta é brutalmente desrespeitada por quase todos, principalmente as grandes potências – EUA, UE, Rússia, China, etc -, foi provavelmente para cumprir formalismos...

Assim como não percebo como é que se tolera que a ONU seja um instrumento político dos grandes do Mundo, que quando têm interesses económicos a impedem de actuar. Exemplo disso é a recente prisão de Suu Kyi que além de ser um brutal ataque à liberdade da mesma e um incompreensível e condenável ataque dos generais Birmaneses, evidência uma total hipocrisia política e moral de países como os Estados Unidos, a Rússia e a China (com a obvia colaboração da UE). Na verdade Pequim e Moscovo são os principais responsáveis pois foram estes que vetaram as sanções ao país. Mas não pensemos que os outros são inocentes...

Lê mais!

Porque é que Clinton e Obama não estabeleceram a Birmânia como uma prioridade na Ásia? Se virmos bem, dos países asiáticos só as Filipinas e a Indonésia é que não optaram pela “não ingerência” sobre esta questão, sendo que a China protagonizou o discurso mais ofensivo que aliás vai de encontro à ditadura horrorosa que por lá mora: “A comunidade internacional deve respeitar totalmente a soberania da justiça Birmanesa”, frase simples mas que diz tudo de um país que acha que quando há violações brutais de direitos humanos num país isso deve passar impune, porque se deve respeitar a soberania dos países. Só se deve respeitar a soberania dos países quando estes aplicam três valores base de qualquer sociedade: a democracia, a liberdade e o respeito pelo homem.

Já do Ocidente existem diferenças discretas entre quem quer sanções pesadas e os que não querem (mas dizem condenar por razões morais). Mas importa perceber o que está por detrás da questão, porque é que China, Rússia, Tailândia, Índia, Singapura (etc.), se colocam nesta posição? A questão energética é a questão central porque ninguém condena a Birmânia e os seus ataques à liberdade e à democracia. E sobre a questão energética existem pontos-chave: todos estes países utilizam portos birmaneses; foram encontradas novas jazidas de petróleo e gás; está a ser construído um oleoduto e um gasoduto entre a Birmânia e a China de 2800 quilómetros; a Tailândia é o primeiro cliente de gás da Birmânia; a Índia não quer dar à China o monopólio energético sobre a vizinha Birmânia (daí ter mudado radicalmente a sua posição em relação a Suu Kyi); a Rússia ir vender centrais nucleares à Birmânia... Enfim, neste tabuleiro político em que os interesses energéticos e económicos se sobrepõe ao respeito pela liberdade, pelo homem, pela democracia, estão sentados todos os países que nos vendem discursos pacifistas e democráticos...

Os mesmos que não vacilam vetar sanções na ONU – Birmânia -, os meus que não vacilam vetar na ONU intervenções em catástrofes humanitárias – Darfur -, os mesmos que se orgulham de participar na guerra do petróleo – Iraque / Afeganistão -, os mesmos que se regozijam na presença de xenófobos neo-fascistas – Itália -, enfim, os mesmos que apoiados pelo silêncio e pela cumplicidade dos outros são os verdadeiros criminosos do Mundo, que se vendem tudo e todos, em troca de petróleo, de dinheiro e de poder!