sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O golpe de 1964

À conta das vagas de aguerrida luta social a intensificação do embate entre os blocos políticos torna-se inevitável, em 1964 assiste-se no Brasil a um movimento de preparação golpista que servirá de modelo em muitos outros países da América Latina. Com as proposta de João Goulart, que passavam por uma reforma agrária que aproveitasse as terras devolutas às margens das Rodovias Federais e por um plano económico bastante restrito no que toca ao envio de remessas ao exterior, pinta-se mais a imagem de um governo “esquerdizante”. Perante as movimentações conservadoras e sob uma pressão política intensa Jango realiza a 13 de Março um comício histórico na Central do Brasil no Rio de Janeiro, elevando o tom das medidas estatizantes e de afronta às velhas oligarquias reacionárias.

A direita brasileira não podia mais brincar à democracia

A
resposta da direita civil e militar surge também na forma de movimentação de massas, as “Marchas da Família com Deus e pela liberdade” enchem as ruas de São Paulo e registam-se grandes movimentações de tropas do exército um pouco por todo o país. Estas demonstrações deixam à vista as bases frágeis do governo de Jango e a sua incapacidade para levar a cabo uma radicalização de cariz classista como saída para a crise política, embora seja controverso afirmar que tenham sido estas as responsáveis pela decapitação do governo. Perante a marcha das tropas do General Olímpio Mourão, em 31 de Março, com destino ao Rio de Janeiro e a incapacidade do Governo em articular uma resistência armada, João Goulart abandona o poder retirando-se para sua terra natal, donde assiste à transferência de poder operada pela Câmara dos Deputados que entrega a Presidência ao General Castello Branco. A primeira e mais notória medida de Castello Branco, por sinal, foi revogar as leis que limitavam a remessa de lucros ao exterior e aquela que decretava a Reforma Agrária de terras devolutas às margens das rodovias federais. O Exército confirmou ser a organização que melhor podia servir, com seus quadros burocráticos e sua força coerciva, os interesses das oligarquias do campo e a burguesia urbana, ansiosas por estabilidade social. Com o golpe o próprio exército abafou ainda a subversão de sargentos e marinheiros, ligados ao movimento de Brizola que vinham demonstrando apoio ao governo de Goulart.

O imobilismo da esquerda

De qualquer forma, o facto de a resistência de esquerda ao golpe ter sido residual ou nula levanta até hoje o debate sobre a classificação do golpe de 1964, sendo a única certeza que a organização política montada em torno do governo de Goulart implodiu arrastando com ela boa parte das organizações de luta dos anos precedentes. Em particular o PCB faz uma crítica interna dura com o seu posicionamento de aposta na frente única, “O resultado dessa política foi trágico. Toda a esquerda na época pagou um alto preço pelos erros de avaliação. No dia do golpe, alguns militantes do PCB chegaram a achar que o Exército estava nas ruas para “defender a legalidade.”

Envolvimento dos E.U.A – O mito do papão imperialista ou o polimento da lente?

Como em todos os acontecimentos do pós segunda guerra é impossível não analisar o posicionamento dos E.U.A, sobretudo quando o assunto é a América Latina. Sendo certo que o envolvimento yankee na aventura golpista brasileira foi sendo o centro de muitos debates, sobretudo na esquerda revolucionária reconfigurada e caída de amores pelo PT, a divulgação recente dos documentos da CIA, sobretudo o acesso à gravação telefónica que colocamos abaixo, onde Lyndon Johnson diz o que diz, não deixa grande margem para teimas. Os documentos da CIA ainda revelam que o governo dos EUA, por meio de Lincoln Gordon (Embaixador norte-americano), articulou todo um apoio logístico, caso os golpistas enfrentassem alguma resistência armada.




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