sexta-feira, 17 de abril de 2009
Funcionárias da Loja do Cidadão de Faro proibidas de usar saias curtas e decotes
"As funcionárias da Loja do Cidadão de Faro, inaugurada a 3 de Abril, foram proibidas de usar saias curtas, decotes, saltos altos, roupa interior escura, gangas e perfumes agressivos. As instruções foram dadas numa acção de formação antes da abertura da loja, denunciou uma funcionária.
Segundo conta hoje o “Correio da Manhã”, as instruções foram apresentadas durante uma acção de formação promovida pela Agência de Modernização Administrativa.
“Esta acção incide sobre várias matérias e, em particular, sobre o que deve constituir um atendimento de qualidade, que ajuda ou prejudica o relacionamento com os cidadãos”, justificou Maria Pulquéria Lúcio, vogal do Conselho Directivo da agência, ao jornal.
Os “aspectos de postura pessoal foram abordados como importantes para uma imagem cuidada” das funcionárias, acrescentou.
Pulquéria Lúcio confirmou a proibição do uso de decotes exagerados, perfumes agressivos e gangas, mas negou a referência a saltos altos e a roupa interior escura. (in Público 10-4-09)
As mulheres continuam a não ser tidas como donas dos seus corpos. Corpos de mães, santas, não pensantes, não sujeitas, assexuadas, putas, submissas, devassas. Sujeita a ouvir todas as palavras, que lhes são dirigidas por qualquer homem, digamos, um macho, que tem os tomates no sítio. Sujeita a ser tocada sem querer. Sujeita a ser olhada de cima abaixo como se nao fosse pessoa. Uma coisa. Uma mulher é um objecto criado pela sociedade patriarcal. Sem voz. Sem ouvidos.
Se estiver na rua à noite é porque "anda à procura", se veste mini-saia é normal que seja violada pois encontra-se na "coutada do macho ibérico", se está com amigas está sozinha. Basta um homem e já está em grupo. E se estiverem 20 mulheres e um homem falemos pois no masculino, já que é ele o detentor do poder, simbólico e real. Passam a ser "todos" e não todas e o Manel. Elas são invísíveis.
Mas boas para foder, procriar - sendo que foi para esta "tarefa" que nasceu, levar porrada, ouvir as palavras mais sujas, trabalhar em casa e fora dela. Se há um ele que leva o balde do lixo já está a "ajudar", portanto é "bom para ela", e nem lhe bate.
E esse corpo/objecto deve ser escondido porque existe para seduzir e provocar os homens, até porque elas não têm sexualidades, desejos, vontades, sonhos, poder de decisão sobre o que querem ser e como querem parecer.
Há muitos tipos de burka. As visíveis e as não visíveis. Nós todas carregamos uma.
Para completar este meu texto, que me doeu ao escrever, utilizo um post do blogue do grande pensador e antropólogo Miguel Vale de Almeida ( in http://blog.miguelvaledealmeida.net/ ).
Emprestem as saias aos colegas
«As funcionárias da nova Loja do Cidadão de Faro estão proibidas de usar saias curtas, decotes exagerados, gangas e perfumes agressivos. A norma faz parte do conjunto de regras exigidas, no âmbito da modernização administrativa, para que seja construída uma imagem de “qualidade” do serviço público» (Público) Cá para mim a melhor forma de contestar isto é os colegas masculinos aparecerem um dia, em gesto de solidariedade, de saia curta e decote generoso: com certeza as regras não se lembraram de proibir isso…".
Irene Porto
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