quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Não, nem obrigado, meu General


“Fábio Gonçalves nem queria acreditar quando, ontem, um grupo de quatro militares do Centro de Recrutamento de Braga interrompeu a aula que assistia para lhe fazer uma surpresa. Aluno do 12ºR da Escola Secundária Carlos Amarante, Fábio Gonçalves ganhou ainda mais ânimo para ingressar no Exército português”. Assim começa a notícia do jornal Correio do Minho desta terça-feira.

Tudo terá começado na semana passada quando este diário, que desde há muito mantém estreitos laços com Mesquita Machado, lançou um inquérito de rua a jovens indagando o que estes esperavam do futuro após concluírem o secundário. O Fábio terá respondido que queria seguir o exército. Tendo lido isto os militares do Centro de Recrutamento de Braga não estiveram para meias medidas, contanto com os holofotes do jornal e com a conivência dos professores fizeram uma surpresinha ao aluno e a toda a turma. O resultado, para além da impagável capa de jornal, ao que parece não poderia ser melhor, a “operação de charme”, como diz a notícia, teve tanto sucesso entre os alunos que até terá ficado o desejo de uma futura palestra sobre o ingresso no Exército.


A cena aqui relatada, apesar de burlesca, não é nova. Quem já ouviu relatos de jovens que são obrigados a participar no dia da defesa nacional (são 70 mil jovens por ano) com certeza identificou a similitude. Nestes espaços, de verdadeiro aliciamento moral, a discussão sobre o papel do exército em Portugal, nos campos do Afeganistão ou na construção identitária de cada um de nós é coisa que passa longe, muito longe. As promessas de infindas oportunidades e benesses aos jovens que ingressem numa carreira militar, da qual a maioria tem apenas uma imagem caricaturada e cinematográfica, parece fazer caminho apoiando-se num sentimento insuflado de amor à pátria e belicismo extremado.

O nosso campo de combate nesta área é múltiplo. Em 2007 o Bloco apresentou um projecto-lei para acabar com a obrigatoriedade da participação dos jovens no Dia da Defesa Nacional, foi chumbado por todos os outros partidos, é hora de voltar à carga. A organização da contra-cimeira anti-NATO este ano relança o debate sobre o militarismo e as agressões imperialistas, avançar na contra-corrente das representações belicistas e patrióticas será uma das chaves para o seu sucesso. Finalmente, casos, como este de Braga, intensificam a urgência de um movimento estudantil crítico e participativo, capaz de levar para o seio das escolas a discussão de temas como a guerra, criando, pela sua acção e pensamento, um sentimento de internacionalismo solidário, ao mesmo tempo dotando os alunos de uma práctica democrática que lhes permita dizer não a estes engodos militaristas.

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