






Insubmissão. Revolta. Protesto.
Em 1961, João Goulart toma posse como Presidente da República Brasileira na sequência da renuncia de Jânio Quadros, após um curto governo de 7 meses. Com a oposição política das lideranças conservadoras e militares, João Goulart – O Jango, contava com o apoio do PTB, partido com forte influência no mundo sindical, e ainda do PCB e PSB. Para além destes dois partidos assinalam-se o apoio e a influência de um movimento social robusto, com fortes raízes populares e em ascensão organizativa1. De certo modo, o Governo de Jango ganhou contornos de Frente Popular, prontamente atacado pela ala militar conservadora, levando o congresso nacional a impor um sistema parlamentar, sendo Tancredo Neves empossado primeiro-ministro. Já em 1963, através de um plebiscito o sistema é rejeitado e retorna-se ao presidencialismo.
As greves e movimento operário
Entre 1961 e 1964 as greves urbanas dos serviços e da indústria multiplicam-se em vários sectores, conseguindo ensaiar movimentos conjuntos com forte impacto, como a greve dos 700 mil em 1963. Tendo várias lideranças sindicais, como as do Estado de São Paulo, ligações ao Governo Jango estas greves ganharam contornos políticos determinantes no desfecho político da vitória da reação política e militar e no estabelecimento de um apertado cerco a toda a actividade sindical2.
A Frente de Mobilização Popular
Criada em 1962 sob a liderança do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, actuou como grupo de pressão, exigindo que o presidente João Goulart programasse as reformas de base (agrária, urbana, tributária, bancária e constitucional). A Frente contou com a adesão de organizações sindicais, femininas, camponesas e de alguns integrantes do Congresso Nacional e do Partido Comunista Brasileiro (PCB). A FMP lançou vários manifestos, dentre eles o de apoio à rebelião dos sargentos em Brasília de setembro de 1963, e o de apoio ao nome de Leonel Brizola para ministro da Fazenda. A UNE – União Nacional de Estudantes ganha neste período um forte ascenso de mobilização, constituindo um movimento que irá subsistir para lá do golpe militar de 1964.
Ligas Camponesas
1-BANDEIRA, Moniz, (1978), O Governo João Goulart: As lutas sociais no Brasil (1961 – 1964). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
2-NEGRO, Antonio Luigi; SILVA, Fernando. «Trabalhadores, sindicatos e política (1945-1964).» In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. (org.). O Brasil republicano. O tempo da experiência democrática: Da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, v. 3, p.155-194.
Está quente o ambiente na esquerda Brasileira. Com a recusa de Heloísa Helena para assumir uma candidatura às presidenciais brasileiras do próximo ano (tudo indica que prefere se candidatar ao Senado) abriu-se uma crise que parece por em xeque a reedição de uma frente de esquerda, ampla e unitária, como a que se assistiu em 2006, com PSOL, PSTU, PCB e vários movimentos sociais. Mas a turbulência no PSOL, o movimento chave deste processo, estende-se para lá desta recusa.
Não tendo definido uma estratégia clara para as presidenciais no seu último congresso, assiste agora ao apoio declarado de uma boa porção da sua direcção política à candidatura de Marina Silva, figura do ambientalismo brasileiro e ex-Ministra do Ambiente do actual Governo Lula que rumou ao Partido Verde (PV), inclusive com declarações públicas muito elogiosas por parte de Heloísa Helena. Este processo despoletou um crise interna no partido, com várias das suas correntes a manifestar o seu desacordo perante este possível apoio à figura de Marina Silva e o projecto político constituído pelo PV, partido que no passado chegou mesmo a integrar o governo de Fernando Henrique Cardoso e que tem como actual presidente Zequinha Sarney, filho de José Sarney, Ex-Presidente da República e figura política de proa das grandes oligarquias do nordeste do brasil.Marina Silva, que reunirá, é certo, algum apoio de alguns descontentes da candidatura Petista de Dilma Rousseff para além de alguns intelectuais, artistas e parte do movimento ambientalista (para não falar dos elogios de Al Gore) parece estar longe de gerar consensos na esquerda brasileira, tendo mesmo o PSTU já avançado com a pré-candidatura de José Maria.
O PSOL aparece da confluência de várias correntes que surgem da crise do PT como projecto de luta e agregação socialista, tem ainda uma frágil consistência interna e uma direcção bastante dividida, mas reúne em si um filão essencial de toda a esquerda brasileira política e social, sem a qual uma alternativa de esquerda e de combate socialista ficará condenada ao fracasso. A pré-candidatura interna de Plínio Arruda Sampaio, histórico militante da esquerda brasileira, aparece assim como uma alternativa que poderá ser definidora nos próximos tempos, veremos.
Foi há 20 anos que o mundo mudou. Foi há 20 anos que milhares de pessoas com as suas próprias mãos pulverizaram o ódio e a segregação que aqueles 3,6 metros de betão em Berlim representavam. Foi há 20 anos que caiu o muro que dividia Berlim, a Alemanha, a Europa e o mundo.
Mas os muros ainda existem. Há cerca de 6 meses fui a Palestina e deparei-me com um muro de 8 metros de altura e com uma extensão prevista de 721 km, que dissecava várias cidades, aldeias, propriedades, campos e as suas populações. Fui visitar uma aldeia que vive e sobrevive os traumas impostos pela muralha, pela segregação e pela ocupação Israelita que são demasiadamente comuns na Cisjordânia. Bil’in (بلعين) é uma aldeia Palestiniana que fica a 12 km de Ramallah, na Cisjordânia, adjacente a muralha israelita e ao colonato de Modi’in Illit (מוֹדִיעִין עִלִּית). É uma aldeia rural, nua, depravada de várias infra-estruturas, onde o centro de actividade aldeã situa-se em redor da escola, da mesquita e do muro em si. Aqui as crianças andam descalças na rua, jogando a bola com trapos e estendem os papagaios ao vento, de forma a canalizar a frustração e humilhação diária que é imposta pela ocupação Israelita.
Em Bil’in o muro não é construído em betão, não tem 8 metros de altura e não tem o sistema de vigilância electrónica noutros sitios. Aqui, o muro é uma cerca de arame, com arame farpado, portões e um checkpoint Israelita. Aqui a fiscalidade do muro não conta, o que conta é o que o muro faz. Esta barreira separa a aldeia de Bil’in de cerca de 60% das suas terras, uma aldeia que é totalmente dependente da agricultura e dos seus frutos. O acesso as suas terras e as suas oliveiras tornam-se um feito impossível. Para tal, estão a mercê e a vontade dos soldados e dos tribunais Israelitas se o portão está aberto ou fechado, são eles que decidem quando querem, como queres e por que razão querem. Contudo, o acesso nunca lhes é permitido, sob o pretexto que é uma zona militar. “Estamos em Guerra” é a frase mais utilizada pelos soldados Israelitas para justificar o injustificável. Na sua essência, o acesso as suas terras é interdito. É interdito, como está em risco de expropriação visto que consoante a lei Israelita, terras que não sejam atendidas após 1 ano são automaticamente expropriadas. Ao mesmo tempo que são proibidos de ter acesso as suas terras, vêm crescimento e avanço do colonato de Modi’in Illit.
Mas tamanha humilhação e violência estrutural não tem passado despercebido. Desde 2005, a aldeia tem organizado manifestações pacificas semanais que inclui a presença de várias organizações internacionais tal como a International Solidarity Movement. Estes protestos tomam forma de uma marcha que inicia no centro da cidade e termina no na barreira, como forma de parar a construção do muro ou do desmantelamento de porções já construídas. Mas o verdadeiro objectivo deste protesto semanal é demonstrar as forças Israelitas e ao resto do mundo que a construção deste muro é inaceitável. É um acto de insubmissão. É a reclamação dos seus direitos. É a reclamação das suas vidas. É dizer “Já Basta”. É dar visibilidade aqueles que se tornaram invisíveis para o resto do mundo. É a revindicação e retaliação dos oprimidos sobre os opressores. É a demonstração de uma força que não sossega perante a injustiça. É a voz da tolerância que visa a destruição da intolerância.
É a mesma força que despoletou a revolta em Berlim no dia 9 de Novembro de 1989. Sabemos que em Berlim o muro caiu em 1989. Quando cairá na Palestina?
Segundo Kennedy, num mundo que se deseja livre, o grito mais orgulhoso que se poderia vocalizar era “Ich bin ein Berliner”. Hoje, esta frase caiu em desuso, já não tem o mesmo significado, está demodé. Creio que hoje, mais do que nunca devemos pronunciar: “Ich bin ein Bil’iner”. Para um mundo sem muros e aberto para tod@s.