A Juventude Social Democrata – cujo nome, com o passar do tempo, perdeu o hífen e o sentido – lançou um novo site na Internet. Sob o título “Novo Portugal”, a JSD pretende receber e divulgar propostas eleitorais, relativas a várias áreas da vida da juventude portuguesa.
Ao visitar o referido site, durante esta semana, deparei-me com uma proposta, que preenche toda a homepage laranjinha, intitulada “Ensino superior mais próximo do meio empresarial”. A autoria será do jovem militante social-democrata de Gaia, Fernando Almeida. Na base da proposta está a ideia de que é necessário, no ensino superior público, “ter também como docentes personalidades oriundas do meio empresarial”. Porquê? Porque, claro está, “um professor, por muito bom que seja, não consegue transmitir ao estudante a vivência empresarial”.
A retórica da aproximação entre o mundo empresarial e a universidade vem de longe e já há muito que vai fazendo caminho. Nos últimos tempos, terá voltado à superfície com a implementação da ‘nova gestão universitária’: primeiro com o processo de Bolonha, depois com o imposto Regime Jurídico. Tudo isto vinculado pelo oportuno e conveniente subfinanciamento das instituições de ensino superior. Perante a ideia de uma inevitabilidade sistémica, à escala europeia, a ‘nova gestão escolar’ tomou lugar em todos os graus de ensino, do básico ao superior. A legitimação desta linha política tem a sua base na ideia, tantas vezes repetida, de que só um reforço da influência do mundo empresarial na educação contribui para acabar com aquele que é um dos grandes problema estruturais do mercado de trabalho – o desemprego entre os jovens qualificados e a precariedade dos jovens empregados.
Numa altura em que tanto se fala, e bem, dos números monstruosos do desemprego ao nível nacional, não nos esqueçamos de que o desemprego entre os jovens (16-30 anos) é já superior aos 20%. Dos jovens que conseguem arranjar trabalho, segundo dados do inquérito ao emprego (INE, 2004), cerca 70% têm um vínculo de trabalho “precário” e “instável”. O autor da proposta da JSD avança uma série de possíveis futuros professores – desde António Câmara a João Nabeiro (recentemente envolvido num caso judicial relacionado com a gestão dos trabalhadores da sua empresa), passando pelo inevitável Belmiro de Azevedo. Este último é, como se sabe, dono da SONAE, grupo empresarial que funciona com base na precarização e flexibilazação dos vínculos laborais dos jovens trabalhadores. Daqui se conclui que a solução da JSD para resolver o problema do desemprego e da precariedade entre os jovens é dar o lugar de professor universitário àqueles que são os responsáveis níveis máximos históricos do desemprego e da precariedade entre os mais jovens.
Sobre orientações pedagógicas, a proposta de Fernando Almeida não avança uma única palavra. Afinal de contas, segundo as palavras do próprio, a universidade é “dominada por professores com elevada competência científica (…), mas que se encontram demasiado distanciados da realidade das empresas e da vivência dos empresários”. O que interessa é introduzir, a qualquer custo e de qualquer forma, as bases da economia mais liberal na educação. Num tempo em que os demagogos liberais da direita política e social tanto papagueiam em nome da liberalização do ensino, bom seria que, em vez da obsessão de introduzir o meio empresarial na educação, pensássemos em introduzir um pouco de educação no meio empresarial.
João Curvêlo
(Publicado originalmente no Reunião Geral de Alunos, do 'Expresso')
Ao visitar o referido site, durante esta semana, deparei-me com uma proposta, que preenche toda a homepage laranjinha, intitulada “Ensino superior mais próximo do meio empresarial”. A autoria será do jovem militante social-democrata de Gaia, Fernando Almeida. Na base da proposta está a ideia de que é necessário, no ensino superior público, “ter também como docentes personalidades oriundas do meio empresarial”. Porquê? Porque, claro está, “um professor, por muito bom que seja, não consegue transmitir ao estudante a vivência empresarial”.
A retórica da aproximação entre o mundo empresarial e a universidade vem de longe e já há muito que vai fazendo caminho. Nos últimos tempos, terá voltado à superfície com a implementação da ‘nova gestão universitária’: primeiro com o processo de Bolonha, depois com o imposto Regime Jurídico. Tudo isto vinculado pelo oportuno e conveniente subfinanciamento das instituições de ensino superior. Perante a ideia de uma inevitabilidade sistémica, à escala europeia, a ‘nova gestão escolar’ tomou lugar em todos os graus de ensino, do básico ao superior. A legitimação desta linha política tem a sua base na ideia, tantas vezes repetida, de que só um reforço da influência do mundo empresarial na educação contribui para acabar com aquele que é um dos grandes problema estruturais do mercado de trabalho – o desemprego entre os jovens qualificados e a precariedade dos jovens empregados.
Numa altura em que tanto se fala, e bem, dos números monstruosos do desemprego ao nível nacional, não nos esqueçamos de que o desemprego entre os jovens (16-30 anos) é já superior aos 20%. Dos jovens que conseguem arranjar trabalho, segundo dados do inquérito ao emprego (INE, 2004), cerca 70% têm um vínculo de trabalho “precário” e “instável”. O autor da proposta da JSD avança uma série de possíveis futuros professores – desde António Câmara a João Nabeiro (recentemente envolvido num caso judicial relacionado com a gestão dos trabalhadores da sua empresa), passando pelo inevitável Belmiro de Azevedo. Este último é, como se sabe, dono da SONAE, grupo empresarial que funciona com base na precarização e flexibilazação dos vínculos laborais dos jovens trabalhadores. Daqui se conclui que a solução da JSD para resolver o problema do desemprego e da precariedade entre os jovens é dar o lugar de professor universitário àqueles que são os responsáveis níveis máximos históricos do desemprego e da precariedade entre os mais jovens.
Sobre orientações pedagógicas, a proposta de Fernando Almeida não avança uma única palavra. Afinal de contas, segundo as palavras do próprio, a universidade é “dominada por professores com elevada competência científica (…), mas que se encontram demasiado distanciados da realidade das empresas e da vivência dos empresários”. O que interessa é introduzir, a qualquer custo e de qualquer forma, as bases da economia mais liberal na educação. Num tempo em que os demagogos liberais da direita política e social tanto papagueiam em nome da liberalização do ensino, bom seria que, em vez da obsessão de introduzir o meio empresarial na educação, pensássemos em introduzir um pouco de educação no meio empresarial.
João Curvêlo
(Publicado originalmente no Reunião Geral de Alunos, do 'Expresso')
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