A oligarquia é adversa à democracia embora nem sempre a democracia seja adversa à oligarquia... Isto porque nunca houve oligarquias democráticas, mas já houve (e continuam a haver) democracias oligárquicas. Assim a Birmânia foi crescendo e se formando naquilo que hoje é...
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Passando de uma democracia independente na metade do século (1948), foi modelada por uma apropriação oligárquica do sistema, que colidiu com o golpe de estado do general Ne Win em 1962. Isto porque a democracia em sentido puro é incorruptível e quando a democracia se deixa minar ao ponto de ser derrubada ou é porque é uma democracia corrupta ou porque se começou a transformar numa democracia oligárquica. Foi assim que, em nome de um qualquer “socialismo birmanês” foi nacionalizada toda a economia, mas para as mãos de quem? Do povo? Dos trabalhadores? De quem nada mais tem que a sua força de trabalho? Não (...) seguindo os lobbies oligárquicos que lhe deram origem a economia birmanesa ficou, após o golpe de estado, nas mãos da casta militar: o país foi isolado (até se acabaram com os passaportes...); foi lançada uma brutal ofensiva xenófoba que expulsou do país Indianos e Paquistaneses principalmente; intensificou-se a caça às minorias étnicas; contudo após várias revoltas a ditadura de Ne Win afundou-se com os tumultos de 1988, após o massacre de 3 mil pessoas. De certo modo restabeleceu-se a esperança... A junta militar que sucedeu fez eleições em 1990 e a Liga Nacional para a Democracia de Suu Kyi obteve quatro quintos dos votos. Ironia das ironias, na selvajaria “oligárquico-democratica” birmanesa as eleições foram anuladas. Suu Kyi foi presa e restabelecida a ditadura, esta sob o comando de Than Shwe que blindando o regime Birmanês continua nos dias hoje a praticar verdadeiras chacinas que passam ao lado (mais uma vez...) das grandes potências. Na verdade, por vezes é questionável para que se celebrou uma declaração Universal (para todos) dos direitos do Homem quando esta é brutalmente desrespeitada por quase todos, principalmente as grandes potências – EUA, UE, Rússia, China, etc -, foi provavelmente para cumprir formalismos... Assim como não percebo como é que se tolera que a ONU seja um instrumento político dos grandes do Mundo, que quando têm interesses económicos a impedem de actuar. Exemplo disso é a recente prisão de Suu Kyi que além de ser um brutal ataque à liberdade da mesma e um incompreensível e condenável ataque dos generais Birmaneses, evidência uma total hipocrisia política e moral de países como os Estados Unidos, a Rússia e a China (com a obvia colaboração da UE). Na verdade Pequim e Moscovo são os principais responsáveis pois foram estes que vetaram as sanções ao país. Mas não pensemos que os outros são inocentes... Porque é que Clinton e Obama não estabeleceram a Birmânia como uma prioridade na Ásia? Se virmos bem, dos países asiáticos só as Filipinas e a Indonésia é que não optaram pela “não ingerência” sobre esta questão, sendo que a China protagonizou o discurso mais ofensivo que aliás vai de encontro à ditadura horrorosa que por lá mora: “A comunidade internacional deve respeitar totalmente a soberania da justiça Birmanesa”, frase simples mas que diz tudo de um país que acha que quando há violações brutais de direitos humanos num país isso deve passar impune, porque se deve respeitar a soberania dos países. Só se deve respeitar a soberania dos países quando estes aplicam três valores base de qualquer sociedade: a democracia, a liberdade e o respeito pelo homem. Já do Ocidente existem diferenças discretas entre quem quer sanções pesadas e os que não querem (mas dizem condenar por razões morais). Mas importa perceber o que está por detrás da questão, porque é que China, Rússia, Tailândia, Índia, Singapura (etc.), se colocam nesta posição? A questão energética é a questão central porque ninguém condena a Birmânia e os seus ataques à liberdade e à democracia. E sobre a questão energética existem pontos-chave: todos estes países utilizam portos birmaneses; foram encontradas novas jazidas de petróleo e gás; está a ser construído um oleoduto e um gasoduto entre a Birmânia e a China de 2800 quilómetros; a Tailândia é o primeiro cliente de gás da Birmânia; a Índia não quer dar à China o monopólio energético sobre a vizinha Birmânia (daí ter mudado radicalmente a sua posição em relação a Suu Kyi); a Rússia ir vender centrais nucleares à Birmânia... Enfim, neste tabuleiro político em que os interesses energéticos e económicos se sobrepõe ao respeito pela liberdade, pelo homem, pela democracia, estão sentados todos os países que nos vendem discursos pacifistas e democráticos... Os mesmos que não vacilam vetar sanções na ONU – Birmânia -, os meus que não vacilam vetar na ONU intervenções em catástrofes humanitárias – Darfur -, os mesmos que se orgulham de participar na guerra do petróleo – Iraque / Afeganistão -, os mesmos que se regozijam na presença de xenófobos neo-fascistas – Itália -, enfim, os mesmos que apoiados pelo silêncio e pela cumplicidade dos outros são os verdadeiros criminosos do Mundo, que se vendem tudo e todos, em troca de petróleo, de dinheiro e de poder.
Artigo publicado em: http://www.acomuna.net/content/view/240/1/
terça-feira, 1 de setembro de 2009
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