Foram mais de três mil os estudantes universitários que marcharam em Lisboa pela defesa do Ensino Superior público e de qualidade, da cidade universitária até ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior fizeram ouvir a sua voz e as suas reivindicações. Os cartazes, faixas e palavras de ordem eram claros: os problemas - o estrangulamento financeiro das instituições, o déficit da acção social, o garrote das propinas e o processo de Bolonha; os responsáveis - Mariano Gago e a política do Governo. Após anos de total imobilismo, a classe estudantil conseguiu ensaiar um primeiro esboço de uma luta que só será vencedora e digna de travar se for longa, concreta e mobilizadora.
Actualmente, são mais de seis mil os alunos que sairão das Universidades endividados, deixando à vista a política de desresponsabilização do governo que avaliza estes empréstimos como forma de acção social. Aqueles que viram reduzidas ou negadas as suas bolsas conhecem bem o sabor amargo da espera e da aflição sentido nestas ultimas semanas, acabando por ser a desistência do ensino a única saída. As Universidades, sufocadas financeiramente, atingiram o máximo da sua capacidade de endividamento, começando já uma política de despedimentos e de encerramento de serviços e unidades (laboratórios, bibliotecas). O processo de Bolonha, possivelmente o maior fiasco da dita modernização do ensino superior, deixou à porta todas as suas promessas de mobilidade e formação, introduzindo uma torrente de problemas organizativos e pedagógicos, desqualificando os ciclos de ensino e atirando os alunos para o mercado de trabalho despreparados e sujeitos à uma, cada vez maior, precariedade laboral.
Todos estes problemas, à partida desencontrados e com especificidades próprias, têm no entanto um pólo comum, um motor que faz andar este projecto de ataque ao ensino publico e de qualidade, e identificá-lo, em claro e bom som, foi o principal sucesso da manifestação de dia 17, retomando uma das palavras mais ouvidas: “está na hora, está na hora, do Gago ir embora.” Mariano Gago, Ministro totalista dos últimos governos do PS na pasta, experiente que é em abafar as manifestações dos estudantes, não tardou a vir anunciar um “plano de confiança” para o Ensino Superior, prometendo aumentar aquilo que diminuiu durante quatro anos e claro, muito e abundante diálogo, não fosse esse o principal prato deste novo governo. A nós caberá dizer não a esta política do chicote e da cenoura, lutando por uma política clara e de defesa intransigente dos nossos direitos; por uma acção social justa, a tempo e horas, por um financiamento equilibrado das instituições e pela defesa democrática dos órgãos de governo das universidades e das suas decisões pedagógicas e orgânicas.
O resto já todos sabemos, alargar para radicalizar. Saber combater a lógica dos clientelismos e eleitoralismo das actuais Associações, reivindicando mais democracia e discussão, aproveitando, onde possível, para constituir listas de oposição. Uma nova manifestação impõe-se, maior e melhor organizada, o Orçamento de Estado poderá ser o mote, mas apenas se formos capaz de inverter a relação de forças nas nossas próprias faculdades e fazer da revolta um movimento de mudança.
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