segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Governo Brasileiro quer construir muro para travar favela


O governo do Estado do Rio de Janeiro pretende construir um muro para tentar impedir a expansão da favela Dona Marta, no bairro de Botafogo, zona sul da cidade. "O que se fizer será muito semelhante ao que Israel faz com os palestinianos ou com o que aconteceu na África do Sul".

O projecto, defendido pelo governador Sérgio Cabral, estipula que a barreira teria três metros de altura e 650 de comprimento. Muro esse que isolaria as 10 milhares de pessoas que vivem em condições Sub - humanas na favela e que tornaria a pobreza, a exclusão, a doença, a criminalidade e a desigualdade como realidades secundárias e para segundo plano.

Vários líderes comunitários da favela Dona Marta, consideram que a medida acentuaria a segregação a que os moradores já estão sujeitos. Será moralmente aceitável que a responsabilidade de combate à pobreza seja atirada para segundo plano? Será moralmente aceitável que o combate à segregação seja colocado em segundo plano? Será compreensível generalizar-se as 10 mil pessoas da favela ao tráfico de droga sujeitando milhares de homens, mulheres e crianças inocentes ao completo isolamento?

O governador reiterou que a prioridade das autoridades é "enfrentar o tráfico de drogas e as milícias, impondo limites ao crescimento desordenado" ao passo que sobre a pobreza, as doenças de rua, o desemprego e a segregação que são realidades da favela, o governador nada tem a dizer… O combate à criminalidade, ao trafico de droga e aos negócios ilegais paralelos não se combaterá afinal com politicas de integração, educação, combate à pobreza e de emprego emprego? A prioridade na resolução dos problemas tem de ser a causa sem isso nunca se chegara a lado nenhum.

"O que se fizer será muito semelhante ao que Israel faz com os palestinianos ou com o que aconteceu na África do Sul", classificou Maurício Campos, da rede de organizações não-governamentais (ONG) Comunidades Contra a Violência.

A verdade é essa. Em nome do combate ao tráfico de droga a segregação vai-se generalizar, e as pessoas vão viver um isolamento económico e social brutal que nada vai contribuir para a resolução real dos seus problemas. O projecto foi ainda criticado pelo antigo prefeito do Rio, César Maia, e pelo ambientalista David Zee, professor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "Essa verba aplicada na construção do muro devia ser canalizada para programas de educação para que os próprios moradores se tornem os fiscalizadores de possíveis invasões de novos traficantes", expôs. Zee defende mesmo que a construção do muro demonstra "apenas" a incompetência do poder público em enfrentar os traficantes que dominam parte das cerca de 700 favelas da cidade: "[O muro] não surte efeito nenhum, as autoridades viram as costas e aproveitam o muro para fazer a parede da casa deles. Acho agressivo visualmente na paisagem local, um negócio desse tamanho pode servir até de trincheira para tiro".

O antigo autarca do Rio considerou que "um muro sempre dá a ideia de gueto" e sugeriu que "muito melhor seria uma divisão com uso de vegetação própria, que cumpriria a mesma função sem que as pessoas se sentissem dentro de uma casamata". "Não pode continuar a ser da índole dos brasileiros separar por meios materiais os bairros mais luxuosos das comunidades mais pobres", reforçou César Maia.

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